quinta-feira, 2 de junho de 2016

Mínimos




Cinco anos e mais seis meses na condição de transplantado cardíaco o trauma sobrevive e a vida, embora possa ter retomado o seu ciclo, fê-lo numa lógica de "serviços mínimos". Claro mais vale uma vida em serviços mínimos do que uma vida "encerrada para balanço". Acerca disso nenhuma dúvida. Tenho procurado manter actividade, novos interesses tomaram uma dimensão que não tinham, é o caso da pintura, que embora já merecesse o meu interesse, agora dedico-lhe muito mais tempo, seja a pintar seja a animar grupos que pintam, e neste momento já são três com cerca de vinte pessoas e que seguem as minhas sessões que faço de forma benévola, pois a minha condição de aposentado por incapacidade não me permite que isso me dê qualquer rendimento, que felizmente não necessito. A minha condição de "alentejano" adoptado, que vive em permanência no BA também não me permite outras alternativas. Mas sinto-me bem assim. Poderia estar condenado à irrelevância dos meus sessenta e três anos doentes, mas penso que a dedicação e o esforço fazem de mim um ser com relevo, alguém. Se me perguntam se é uma vida plena, não, não é. Imponho a mim mesmo muitos limites, ou melhor são me impostos pela minha condição, pelo estado a que cheguei quando se fez o transplante, pelas suas consequências, pela medicação maciça e agressiva a que estou sujeito, pela ditas intercorrências, uma coluna desgraçada por meses de internamento, uma vista atacada por edemas que me afectam a visão, os diabetes, a condição de hipo-coagulado, mas um coração "usado" mas em bom estado. O meu dador foi generoso, ou generosa, pois a minha médica de família jura sobre a Bíblia que é de mulher. Esta a cartilha dos meus serviços mínimos. Mas ainda assim serviços feitos.

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