Não sei se outros transplantados se queixam do mesmo, mas no meu caso noto uma alteração grande no meu modo de estar, na minha reação, na atitude face a adversidades, dificuldades ou situações limite. Digamos que o meu "feitio" mudou, não necessáriamente no bom sentido. Penso que nada tem a ver com a operação em si mas sim com o processo, e toda a "tramitação", aquilo que se passou, aqueles momentos em que olhar no espelho era para mim uma experiência traumatizante. Verdade que parecia lógico que o ter passado pelo que passei poderia ter introduzido um sentimento de relativização face a situações que anteriormente pareciam inultrapassaveis Na realidade essa desvalorização das dificuldades surge, vivo melhor com menos, mas o feitio esse tornou-se mais irascível, pouca coisa me faz "saltar a tampa", e a minha reação é agora imprevisível, e muitas vezes indesejável para mim mesmo. Tenho menos autocontrolo, e por vezes perco as "estribeiras". Claro temos também os diabetes que não ajudam nada. Tenho observado outros transplantados cardíacos e de facto encontro em todos esses sintomas. A impaciência, a ansiedade, a reação intempestiva fazem agora mais que nunca parte do meu feitio.
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