sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Recomeçar



recomeçar 
verbo transitivo e intransitivo
Tornar a começar. = REINICIAR


Tudo se vai iniciar aonde terminou o anterior capitulo da vida. O meu velho coração já terá ido para uma incineradora situada algures nos subúrbios, era 27 de Janeiro de 2011 regressava a casa com o meu novo coração pronto para o que der e vier. Os bombeiros foram-me buscar e na viajem para o Alentejo tudo estava tão diferente desde aquele dia 29 de Setembro em que tinha feito o percurso inverso, de Beja a S.Marta, com uma leve esperança de vida e uma grande cruz sobre a minha cabeça, na incerteza de uma espera que podia ser de semanas ou de meses ou nem acontecer, pois morrera entretanto. As árvores na beira da autoestrada eram diferentes, a paisagem que sonhara voltar a ver agora era invernosa e estava frio embora com sol. Além de ser transplantado agora  também era diabético. A longa e perigosa insuficiência cardíaca tinha deixado a sua marca e cravado a garra no pâncreas ( talvez do mal o menos), e tinha de tomar insulina entre as outras pílulas, cápsulas, comprimidos, pomadas, drageias. Em casa nos primeiros tempos arrastava-me, pagava o preço de uma longa permanência na cama, e tudo me atrapalhava. Entretanto uma dor intensa na virilha dificultava, e em breve um enorme hematoma crescia na região femural, onde há uns dois meses tinha progredido uma infeção através de um cateter central colocado na artéria fémural na dificuldade de encontrar outras localizações. Agora retomava a mesma infeção, com dor intensa. Para começar nada mal. A 13 de Fedvereiro, isto é cerca de quinze dias após a alta, por recomendação do Dr RS regressava a S. Marta, de novo para a UCI, onde tanto tinha sofrido. Quando lá entrei só me apetecia morder, voltar às mesmas caras, a mesma luz nos olhos, os mesmos enfermeiros, médicos, cheiros, ruídos, equipamentos, agulhas, análises, tudo igual, tudo incerto, só que agora já tinha um coração novo, vá lá ! Fui transportado numa ambulância dos Bombeiros de Ourique, e para ajudar tivemos um acidente no caminho ! Ando a brincar com a sorte !

Lustro



lustro 
substantivo masculino
1. Período de cinco anos.
2. Polimento.
3. [Portugal: Trás-os-Montes]  Relâmpago.

Passaram no passado dia 26 de Dezembro cinco anos sobre a data do meu transplante cardíaco. Cinco anos parece uma eternidade, Segundo li a sobrevida média dos transplantados cardíacos situava-se nos 13 anos em 2010, ano até ao qual tinham sido feitos 558 transplantes em Portugal, hoje penso que iremos para os 700. A sobrevida aos 5 anos que era de 66% há alguns anos hoje situa~se nos 73%, dados de Espanha onde terão sido feitos cerca de 6500 transplantes cardíacos. Assim estou dentro da normalidade, ou seja não faço parte dos 27% que morreram antes dos 5 anos, e para a média ainda tenho 8 anos de vida, sendo que com os meus 63 anos as estatisticas dizem que poderei morrer aos 71 anos. Dado que a esperança de vida dos homens em Portugal é de 77 anos, afinal a fazer fé nas médias só perderei 6 anos relativamente aos "macho latino médio português". Isto se valorizar apenas a morte. Mas há algo que já ninguém me tira, o sofrimento, e a vida feita "em serviços mínimos". Passaram 5 anos e tantas coisas ocorreram quase todas com uma relação directa ou indirecta com os "estranhos acontecimentos" de 2010 que hoje aqui evoco. As memórias destes cinco anos valerão tantos como as dos 4 que antecederam o transplante, e os acontecimentos passam por 3 internamentos, algumas infeções, um divórcio, um acidente de ambulância, uma total dependência de medicamentos, perda de qualidade de vida, deslocações periódicas ao hospital e centro de saúde, despesas médicas. desânimo por vezes, sofrimentos, muito, solidão, alguma, mas acabo por conservar ainda uma coisa que é insubstituível, a vida, como Deus a deu. Vou retomar este blog para relatar essa experiência.